Quantcast
Channel: Arquivos Post-Rock - Música Instantânea
Viewing all articles
Browse latest Browse all 215

Crítica | Rachika Nayar: “Heaven Come Crashing”

$
0
0

Rachika Nayar é uma compositora que reside na região do Brooklyn, em Nova Iorque, mas que parece sintonizada com o cosmos. Depois de estrear com Our Hands Against The Dusk (2020), trabalho em que utiliza da sobreposição de guitarras para produzir delicadas paisagens instrumentais, a musicista decidiu ampliar o próprio campo de atuação e investir em um repertório marcado pelo criativo diálogo com a produção eletrônica. Depois de um ensaio com o material entregue em Fragments (2021), a artista retorna com sua maior e mais complexa criação, o transcendental Heaven Come Crashing (2022, NNA Tapes).

Marcado pelo refinamento dos arranjos e minucioso processo de criação da artista, o trabalho de dez faixas parte de uma abordagem reducionista, porém, cresce na utilização de pequenos acréscimos. São incontáveis camadas de sintetizadores, texturas e vozes. Mesmo as guitarras, sempre incorporadas de forma labiríntica, ganham novo tratamento ao longo do álbum. Instantes em que Nayar evoca o som ruidoso de veteranos como Fennesz e Tim Hecker, mas em nenhum momento rompe com a própria identidade criativa, flutuando em meio a ambientações celestiais que parecem pensadas para envolver o ouvinte.

Entretanto, diferente do material entregue em Our Hands Against The Dusk, em que investe na formação de um repertório marcado pela serenidade dos temas, Nayar faz de Heaven Come Crashing um campo aberto às possibilidades. São diferentes atravessamentos instrumentais, ruídos sintéticos e batidas que evidenciam a capacidade da musicista em tensionar a experiência do ouvinte. Com quase dez minutos de duração, Tetramorph é um bom exemplo desse resultado. É como um turbilhão criativo que muda de direção a todo instante. Um misto de calmaria e caos que amplia os horizontes do trabalho durante toda sua execução.

Exemplo disso fica ainda mais evidente no que talvez seja a principal composição do disco, a própria faixa-título. Criada em parceria com outro importante nome da cena estadunidense, a inventiva Maria BC, a canção ganha forma em meio a ambientações etéreas e vozes que fazem lembrar de nomes como Julianna Barwick e Grouper, porém, assume um rumo totalmente inesperado. Enquanto a base preserva o caráter acolhedor do restante da obra, batidas destacadas apontam para a produção eletrônica da década de 1990 e ainda rompem com qualquer traço de conforto, proposta que volta a se repetir em Our Wretched Fate.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem contida, ainda íntima dos antigos trabalhos, Nayar em nenhum momento tende ao óbvio. Em Death & Limerence, por exemplo, as guitarras antes diluídas surgem com maior destaque, transportando o ouvinte para um território criativo completamente distinto. O mesmo acontece minutos à frente, em Nausea, faixa que começa pequena, ganha novas tonalidades e mais uma vez evidencia a força e domínio da musicista. Salve excessões, como a econômica Sleepless, cada composição em Heaven Come Crashing se apresenta ao público como um precioso objeto de destaque.

Dividido entre bolsões de calmaria e composições ascendentes, Heaven Come Crashing não apenas evidencia o equilíbrio de Nayar, como talvez seja o trabalho mais acessível já revelado pela compositora. É bastante nítido o esforço da musicista em brincar com as possibilidades em estúdio, porém, estabelecendo pequenas brechas que servem de passagem para a chegada de novos ouvintes. Instantes em que a instrumentista vai de encontro ao mesmo território criativo de nomes como Mew e M83 em início de carreira, porém, de forma bastante singular. Uma delirante combinação de elementos que tende aos temas contemplativos da música ambiente, mas que a todo momento se transforma, muda de direção e cresce.

Ouça também:

O post Crítica | Rachika Nayar: “Heaven Come Crashing” apareceu primeiro em Música Instantânea.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 215

Latest Images





Latest Images